Desabafos...



Quem não precisa de desabafar de vez em quando? Mesmo que seja apenas por um minuto, escrever no teclado é um mecanismo de defesa que nos liberta...
Desabafar, comentar, às vezes "cuscar"...sim, vamos a isso!



sábado, 19 de janeiro de 2008

PROFESSORA

Professores:
Vejam lá se esta colega teve algum medo de reclamar???!!!
Amigos!
Aqui vai a "prosa" de uma colega nossa, que espelha o pensamento de cada um de nós.

A esperança de que as coisas mudem, deve ser a última coisa a morrer...


Exma. Senhora Ministra da Educação

Um dia destes colocaram, no placar da Sala dos Professores, uma lista dos nossos nomes com a nova posição na Carreira Docente.
Fiquei a saber, Sr.ª Ministra, que para além de um novo escalão que inventou, sou, ao final de quinze anos de serviço, PROFESSORA.
Sim, a minha nova categoria, professora!
Que Querida! Obrigada!
E o que é que fui até agora?
Quando, no meu quinto ano de escolaridade, comecei a ter Educação Física, escolhi o meu futuro. Queria ser aquela professora, era aquilo que eu queria fazer o resto da minha vida.
Ensinar a brincar, impor regras com jogos, fazer entender que quando vestimos o colete da mesma cor lutamos pelos mesmos objectivos, independentemente de sermos ou não amigos, ciganos, pretos, más companhias, bons ou maus alunos.
Compreender que ganhar ou perder é secundário desde que nos tenhamos esforçado por dar o nosso melhor.
Aplicar tudo isto na vida quotidiana.
Foi a suar que eu aprendi, tinha a certeza de que era assim que eu queria ensinar!
Era nova, tinha sonhos...
O meu irmão, seis anos mais novo, fez o Mestrado e na folha deAgradecimentos da sua Tese escreve o facto de ter sido eu a encaminhá-lopara o ensino da Educação Física.
Na altura fiquei orgulhosa!
Agora, peço- te desculpa Mano, como me arrependo de te ter metido nisto, estou envergonhada!Há catorze anos, enquanto, segundo a Senhora D. Lurdes Rodrigues, ainda não era professora, participava em visitas de estudo, promovia acampamentos, fazia questão de ter equipas a treinar aos fins-de-semana, entre muitas outras coisas.
Os alunos respeitavam-me, os meus colegas admiravam-me, os pais consultavam-me.
E eu era feliz.
Saía de casa para trabalhar onde gostava, para fazer o que sempre sonhara, para ensinar como tinha aprendido!
Agora, Sr.ª Ministra, agora que sou PROFESSORA, que sou obrigada a cumprir35 horas de trabalho, agora que não tenho tempo nem dinheiro para educar os meus filhos.
Agora, porque a Senhora resolveu mudar as regras a meio (Coisaque não se faz, nem aos alunos crianças!), estou a adaptar-me, não tenhooutro remédio: Entrego os meus filhos a trabalhadores revoltados na esperança que façam com eles o que eu tento fazer com os deles.
Agora que me intitula professora eu não ensino a lançar ao cesto ou a rematar comprecisão à baliza, não chego, sequer a vestir-lhes os coletes.
Passo aulas inteiras a tentar que formem fila ou uma roda, a ensinar queenquanto um "burro" mais velho fala os outros devem, pelo menos, nessaaltura, estar calados.
Passo o tempo útil de uma aula prática a mandar deitar as pastilhas elásticas fora (o que não deixa de ser prática) e aexplicar-lhes que quando eu queria dizer deitar fora a pastilha não era para a cuspirem no chão do Pavilhão.
E aqueles que se recusam a deita-la fora porque ainda não perdeu o sabor?
(Coitados, afinal acabaram de gastar o dinheiro no bar que fica em frente à Escola para tirarem o cheiro do cigarro que o mesmo bar lhes vendeu e nunca ninguém lhes explicou o perigo que há ao mascar uma pastilha enquanto praticam exercício físico).
E os que não tomam banho?
E os que roubam ou agridem os colegas no balneário?
Falta disciplinar?
Desculpe, não marco!
O aluno faz a asneira, e eu é que sou castigada?
Tenho que escrever a participação ao Director de Turma, tenho que reunir depois das aulas (E quem fica com os meus filhos?).
Já percebeu a burocracia a que nos obriga?
Já viu o tempo que demora a dar o castigo ao aluno?
No seu tempo não lhe fez bem o estalo na hora certa?
Desculpe mas não me parece!
Pois eu agradeço todos os que levei!
Mas isto é apenas um desabafo, gosto de falar, discutir, argumentar com quemestá no terreno e percebe, minimamente do que se fala, o que não é, com toda a certeza, o seu caso.
Bastava-lhe uma hora com o meu 5ºC.
Uma hora!
E eu não precisava de ter escrito tanto!
E a minha Ministra (Não votei mas deram-ma, como a médica de família, que detesto, mas que, também, me saiu na rifa e à qual devo estar agradecida porque há quem nem médico de família tenha - outro assunto) entendia porque não conseguirei trabalhar até aos 65 anos, porque é injusto o que ganho e o que congelou, porque pode sair a sexta e até a sétima versão do ECD que eu nunca fui nem serei tão boa professora como era antes de mo chamar!
Lamento profundamente a verdade!

Viana do Castelo

Ana Luísa Esperança

PQND da Escola EB 2,3 Dr. Pedro Barbosa


(AMEI!!!)

1 comentário:

Anónimo disse...

carta sincera mas espectacular...
adorei..

http://www.publipt.com/pages/index.php?refid=missrien